Odontopediatria
A Odontopediatria é a especialidade da medicina dentária dedicada à saúde oral de bebés, crianças e adolescentes e que tem como principal objetivo a realização de tratamentos preventivos mas também curativos para que a criança atinja a idade adulta com uma boca sã, estética e funcional.
A erupção da primeira dentição tem início, em média, entre os 6 e os 8 meses de idade, sendo as meninas geralmente mais precoces. Entre os 2 anos e meio e os 3 anos de idade os 20 dentes temporários já estarão presentes na cavidade oral. A dentição permanente inicia-se entre os 5 e os 7 anos e poderá constituir-se de 32 dentes, caso erupcionem os terceiros molares (sisos), o que nem sempre ocorre. A erupção mais precoce ou tardia não está necessariamente associada a alguma patologia. No entanto, caso a criança não apresente qualquer dente após completar 1 ano de vida, deverá ser observada pelo Odontopediatra.
Quando realizar a Primeira Consulta
A primeira consulta deve ser realizada quando os primeiros dentes decíduos (de leite) erupcionam ou, no máximo, até à criança completar o primeiro ano de vida, de modo a estabelecer um programa preventivo de saúde oral e intercetar hábitos que possam ser prejudiciais. Idealmente, quando existe uma boa saúde oral, a criança deve ser observada cada seis meses. Em situações de elevado risco de cárie, esta periodicidade deve ser reduzida para intervalos de três meses.
Porque é importante a “dentição de leite”?
É muito importante manter a saúde dos dentes de leite. Doenças do foro estomatognático traduzem-se num impacto direto e negativo na sua saúde geral. A cárie dentária e a doença periodontal, se não forem tratadas, podem evoluir para situações de dor, infecção e perda de função. Estes efeitos adversos indesejáveis afetam a nutrição, comunicação, aprendizagem e outras atividades e funções essenciais ao crescimento e desenvolvimento normal.
O que é a “Cárie Precoce de Infância”
A cárie precoce de infância é uma doença crónica que afeta a dentição temporária de crianças em idade pré-escolar e é definida como a presença de pelo menos um dente cariado, a ausência de um dente (por cárie) ou a existência de uma obturação num dente temporário, numa criança de idade compreendida entre 0 e 71 meses.
O diagnóstico precoce é muito importante assim como identificar os fatores de risco associados, permitindo implementar medidas preventivas e terapêuticas que permitem diminuir as complicações desta doença.
As crianças com alto risco de cárie são desde muito cedo colonizadas com uma estirpe bacteriana especifica, que é transmitida a maior parte das vezes pelos pais/cuidadores, através da saliva.
Em associação com a etiologia microbiana, outro fator de risco é a grande ingestão de açúcar. Outros hábitos da dieta como o uso prolongado do biberão com bebidas açucaradas, consumos de snacks ou bebidas açucaradas entre refeições, aumentam o risco de cárie.
Deve-se promover o uso tópico e sistémico de fluoretos, fornecer cada vez mais cedo instruções de higiene, bem como aconselhar regularmente os pais a diminuir o consumo de açúcares na dieta do bebé, evitar a alimentação noturna, ajudando, assim, a reduzir o índice de cárie.
Para realizar os tratamentos em segurança, eficácia e eficiência, muitas vezes é necessário empregar técnicas avançadas de controlo de comportamento com a sedação ou anestesia geral.
Traumatismos
Os traumatismos dentários, são a principal causa de urgências dentárias em Odontopediatria, sendo maioritariamente derivados a quedas.
Os traumatismos em dentes decíduos ou permanentes constituem um problema grave, podendo ser considerados, verdadeiramente, uma situação de urgência especial, não só pelos problemas dentários e as suas repercussões futuras, mas também pelo envolvimento emocional da criança e de seus acompanhantes.
A Internacional Association of Dental Traumatology (IADT), elaborou um póster com um diagrama importante de consultar no caso de ocorrer a avulsão ou a fractura de um dente.
É importante procurar uma consulta médico-dentária o mais rápido possível, preferencialmente nos primeiros 30 minutos.
No caso de se tratar de uma avulsão de um “dente de leite” não deve tentar reposicionar o dente no seu lugar, no entanto, a criança precisa ser avaliada pelo médico dentista.
Se a coroa do dente fraturar, o primeiro passo deve ser encontrar o fragmento, uma vez que ainda poderá ser colado, e conservá-lo em soro fisiológico ou leite até chegar ao médico dentista.
O tratamento deve ser imediato e o acompanhamento realizado de maneira correta, para minimizar as sequelas físicas e psicológicas causadas por esse tipo de trauma em crianças e adolescentes.
Pacientes especiais
O crescente aumento da incidência das doenças do comportamento e de crianças com necessidades especiais fazem da prática da Odontopediatria um desafio constante.
Pela ansiedade da consulta ou por falta de compreensão, as crianças com alguma incapacidade física ou mental apresentam comportamentos resistentes que dificultam ou inviabilizam qualquer acto médico-dentário.
De acordo com a Associação Americana de Odontopediatria, são considerados pacientes com necessidades especiais todos aqueles que possuem qualquer limitação ou deficiência física, de desenvolvimento, mental, sensorial, comportamental, cognitiva ou emocional que requer tratamento médico, intervenção de cuidados de saúde ou serviços e programas especializados. Abrange um largo espectro de patologias: o Síndrome de Down, Perturbações do Espectro de Autismo, Síndrome de Angelman, Paralisia Cerebral, Perturbações de Hiperactividade e Déficit de Atenção, são alguns exemplos. Estas crianças têm, naturalmente, um risco acrescido para doenças do foro estomatognático ao longo da vida, que se traduz num impacto direto e negativo na sua saúde geral. A cárie dentária e a doença periodontal, se não forem tratadas, podem evoluir para situações de dor, infecção e perda de função. Estes efeitos adversos indesejáveis afetam a nutrição, comunicação, aprendizagem e outras atividades e funções essenciais ao crescimento e desenvolvimento normal.
Independentemente do afinco com que são executados os cuidados de higiene oral em casa, a criança precisa de ser avaliada por um Odontopediatra após a erupção do primeiro dente ou até ao primeiro ano de vida. Desta forma podemos realizar um trabalho preventivo de modo a evitar no futuro, tratamentos que impliquem procedimentos desconfortáveis para a criança.
Os cuidados de saúde para crianças com necessidades especiais requerem um conhecimento especializado adquirido por uma formação complementar, bem como uma maior consciência e atenção, adaptação e medidas de acomodação para além das que são consideradas como rotina.
As maiores dificuldades surgem quando a prevenção não é suficiente e temos de avançar para uma abordagem terapêutica. Mesmo os procedimentos médico-dentários de rotina envolvem sons, sabores e outras estimulações que podem ser difíceis de tolerar.
Nos casos em que as técnicas de controlo psicológico do comportamento não são aplicáveis – como por exemplo, os casos de deficiência mental profunda – ou falharem, como ocorre em pacientes altamente resistentes à abordagem profissional – como por exemplo, no caso de crianças autistas – verificou-se que a sedação é a alternativa de eleição.